quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A política do rebelde

Mais uma resenha do fundo do baú:

A política do rebelde - tratado de resistência e insubmissão

(Michel Onfray)

A veia anarquista que originou A política do rebelde lhe surgiu na infância, conta o filósofo francês Michel Onfray. Sua experiência de humilhações em um colégio interno e, na adolescência, o trabalho insalubre numa fábrica de queijos forjaram-lhe um visceral espírito libertário: "A autoridade me é insuportável, a dependência, intolerável, a submissão, impossível", deixa claro no início do livro. Seu texto celebra a busca do prazer como filosofia de combate. Uma filosofia pela plenitude da vida, contrária à armadilha do ascetismo e atenta ao fato de que tudo irá desaparecer.

Onfray constrói os argumentos num diálogo permanente com outros pensadores insubmissos: Nietzsche, Proudhon, Thoureau, Bataille, Foucault, Deleuze, Blanquis. Das obras de Primo Levi, Amery e Antelme sobre o horror nazista, o autor resgata uma constatação crua: não existe diferença de natureza entre os campos de concentração e as "catedrais de dor" administradas pelo capitalismo – indústrias, empresas, prisões, hospitais psiquiátricos. Em graus diversos, há o mesmo desprezo pelo indivíduo.

É em defesa de um individualismo autônomo, solidário, que Onfray elabora sua política hedonista, libertina e libertária. Adepto da retomada dos ideais de maio de 68, ele advoga um "reencantamento do mundo". Para que isso ocorra, crê que é fundamental submeter o econômico ao político, mas também colocar o político a serviço da ética. Sua proposição destaca a cultura crítica, a cólera como dinâmica e o ódio à "moral do sofrimento", que faz do trabalho um valor absoluto e falsamente emancipatório.

Um dos pontos tocantes da obra é o capítulo Cartografia infernal da miséria, em que Onfray revela compaixão pelos despossuídos. Ele toma emprestado referências de Leviatã de Thomas Hobbes e da Divina comédia de Dante para traçar um mapa do inferno contemporâneo, dividido em três círculos de fronteiras tênues. O mais periférico é o dos malditos – indigentes que nada têm além de si próprios. Em seguida vem o círculo dos reprovados – velhos, loucos, doentes, delinqüentes, imigrantes clandestinos. E por fim o dos explorados - espoliados nos locais de trabalho, dentro da legalidade da sua existência.

Como pulverizar a autoridade e destruir o conformismo? O autor reconhece que a ação individual isolada tem eficiência limitada, pois "leva sistematicamente para a boca do lobo". Ele aposta na associação de forças individuais de rebeldia, armadas de pensamento crítico para fazer suas barricadas metafóricas contra os donos do poder. "Mesmo que a probabilidade de uma vitória geral seja nula e impensável", admite. Concorde-se ou não com as idéias do filósofo, ler as provocações de A política do rebelde é como receber um sopro de ar fresco. Impossível ficar indiferente.

Publicado originalmente em 2001 no web site da Editora Rocco.

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